Certa vez publiquei um artigo sobre
a veia artística de alguns políticos do nosso município. São
criaturas capazes de trocar de papel com uma velocidade incrível.
Quando a Justiça pune, interpretam vítimas, choram, acampam na
Prefeitura e transformam a sede do Poder Municipal em um acampamento
teatral. Depois, encarnam um novo personagem e se transformam em
denunciantes e defensores da moralidade e dos bons costumes. Atacam
adversários, humilham e, sem esperar por julgamento, condenam por
conta própria.
Será que alguém ainda leva a sério
estes personagens? Será que eles já não conseguem distinguir a
fantasia da realidade? O político precisa representar o povo, não
representar para o povo. Há uma espécie de gangorra entre essas
duas representações: quanto melhor o político representar o povo,
menos representará para o povo. Quanto mais representar para ele,
pior o representará. Mas para esses personagens da política o que
vale é a aparência. Para eles, não importa que os servidores
fiquem sem informações sobre o reajuste salarial. Também não
importa que as casas do “Morar Feliz” estejam rachando. Eles não
ligam para os médicos que protestam e denunciam as péssimas
condições de trabalho no Ferreira Machado. Não estão nem aí para
os professores que tentam, desde o início do governo, melhorar a
qualidade do ensino no município. No mundo cor de rosa existe uma
fórmula simples: basta produzir uma propaganda bonita e contratar
atores que vão interpretar médicos, professores, crianças, adultos
e idosos felizes. Tudo é na base da atuação, da interpretação.
Temos uma felicidade encenada. Ao todo, o governo deve gastar, em
quatro anos, cerca de R$ 60 milhões com a secretaria de Comunicação
Social. Cerca de R$ 15 milhões por ano, tendo em vista o Orçamento
enviado ao Legislativo. Tudo isso para aprimorar o grande teatro que
se transformou a nossa cidade.
E por falar em teatro, do que esses
personagens se orgulham? A construção de um palco que, segundo a
turma cor de rosa, é o maior palco fixo da América Latina. Assim,
os atores-políticos terão um lugar apropriado para contar suas
histórias, cantar, dançar e, de certa forma, debochar de quem paga
impostos e torce por uma administração séria e competente. Mas
assim como no teatro, a política conta com um público atento que,
no final da peça, sabe exatamente quem merece aplausos e quem já
deveria ter saído de cena.
Artigo publicado ontem (19) pela Folha da Manhã
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