20/05/2012

Política da encenação


 Certa vez publiquei um artigo sobre a veia artística de alguns políticos do nosso município. São criaturas capazes de trocar de papel com uma velocidade incrível. Quando a Justiça pune, interpretam vítimas, choram, acampam na Prefeitura e transformam a sede do Poder Municipal em um acampamento teatral. Depois, encarnam um novo personagem e se transformam em denunciantes e defensores da moralidade e dos bons costumes. Atacam adversários, humilham e, sem esperar por julgamento, condenam por conta própria.
Será que alguém ainda leva a sério estes personagens? Será que eles já não conseguem distinguir a fantasia da realidade? O político precisa representar o povo, não representar para o povo. Há uma espécie de gangorra entre essas duas representações: quanto melhor o político representar o povo, menos representará para o povo. Quanto mais representar para ele, pior o representará. Mas para esses personagens da política o que vale é a aparência. Para eles, não importa que os servidores fiquem sem informações sobre o reajuste salarial. Também não importa que as casas do “Morar Feliz” estejam rachando. Eles não ligam para os médicos que protestam e denunciam as péssimas condições de trabalho no Ferreira Machado. Não estão nem aí para os professores que tentam, desde o início do governo, melhorar a qualidade do ensino no município. No mundo cor de rosa existe uma fórmula simples: basta produzir uma propaganda bonita e contratar atores que vão interpretar médicos, professores, crianças, adultos e idosos felizes. Tudo é na base da atuação, da interpretação. Temos uma felicidade encenada. Ao todo, o governo deve gastar, em quatro anos, cerca de R$ 60 milhões com a secretaria de Comunicação Social. Cerca de R$ 15 milhões por ano, tendo em vista o Orçamento enviado ao Legislativo. Tudo isso para aprimorar o grande teatro que se transformou a nossa cidade.
E por falar em teatro, do que esses personagens se orgulham? A construção de um palco que, segundo a turma cor de rosa, é o maior palco fixo da América Latina. Assim, os atores-políticos terão um lugar apropriado para contar suas histórias, cantar, dançar e, de certa forma, debochar de quem paga impostos e torce por uma administração séria e competente. Mas assim como no teatro, a política conta com um público atento que, no final da peça, sabe exatamente quem merece aplausos e quem já deveria ter saído de cena. 

Artigo publicado ontem (19) pela Folha da Manhã 

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