Há militantes que fazem política e há aqueles que só fazem eleições. A princípio o que parece ser a mesma coisa, tem, na verdade, bastante distinção. Política é o exercício permanente da cidadania, com ou sem representação popular; eleição é o processo seletivo pelo qual os agentes políticos alcançam mandatos. E, convenhamos, no Brasil, o rito eleitoral vem se deteriorando de forma impressionante. O que antes era exceção, hoje, é quase uma regra: a relação do candidato com o eleitor, salvo as honrosas ressalvas, foi transformada num negócio, com preço estabelecido e valores, absurdamente, corrompidos.
Aqui, em nosso Município, as eleições municipais passadas exemplificam bem o que estou afirmando. Bastou a Policia Federal apurar, minimamente, algumas denúncias de venda de votos para que o escândalo viesse à tona, nos famosos episódios de Vila Nova e Morro do Coco, com depoimentos deprimentes de eleitores que negociaram seus votos à cinqüenta reais e muitos outros que venderam sua cidadania e nem, sequer, receberam. Essa gente faz, única e exclusivamente, eleição, não faz política. Aliás, o comprometimento do processo eleitoral é, nesse caso, intencional. Serve à interesses inconfessáveis, pois alguém que consegue chegar à um mandato eletivo, por meios corrompidos, não produzirá nada de útil à sociedade.
E não adianta esperar que pela ação repressora, a situação seja corrigida. Os mal intencionados sempre buscarão meios de burlar a lei. O endurecimento da fiscalização conseguirá minimizar o problema. A solução definitiva passa pela conscientização da população. A questão é cultural. O eleitor tem que se convencer, em definitivo, que ele não é espectador do processo eleitoral. Muito ao contrário, ele é o agente principal. É, justamente, por sua decisão que os políticos assumem funções diversas no Legislativo e no Executivo. E sua decisão deve ser soberana, priorizando sempre o bem coletivo.
Repito que a deterioração do processo eleitoral é intencional. A médio prazo, visa afastar as pessoas de bem e é nessa hora que todos que têm compromisso com o futuro, com uma sociedade melhor devem se juntar e vencer o desânimo e a decepção. Eleições têm esse caráter: são batalhas de uma guerra maior. Perder algumas vezes não desmerece ninguém, sobretudo, quando as condições são adversas e o poder econômico aponta claramente os seus escolhidos. Mas, os que fazem política verdadeiramente não se deixam abater.
Nessa hora é preciso relembrar o que dizia o poeta e dramaturgo alemão, que viveu em fins do século XIX e início do século XX, Bertold Brecht, “ há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. Quem faz só eleição, aparece de quatro em quatro anos, estes são os oportunistas e careriristas. Mas quem faz política, verdadeiramente, com ideal, e que mesmo depois dos reveses, não foge à luta, estes são os imprescindíveis.
Ilsan Viana - Vereadora
Artigo publicado na edição de 09/10/2010
no jornal Folha da Manhã
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